Na
sociedade de hoje, as informações circulam com uma velocidade avassaladora,
assim como as opiniões. Todo mundo tem algo para dizer sobre tudo, o que seria
muito interessante se não fosse a falta de percepção e análise sobre aquilo que
se fala e sobre aquilo que o outro diz.
Quando
uma notícia aparece na mídia, imediatamente, começam a brotar opiniões de todos
os lados, mesmo antes da reportagem acabar. As pessoas, ou melhor, grande parte
das pessoas (generalizações são perigosas!) não se permitem digerir a notícia,
ruminar a informação. Isso mesmo, ruminar. Assim como vários animais fazem com
o alimento, nós precisamos fazer com a informação: regurgitar e novamente
mastigar. Muitos apressadinhos não permitem nem mesmo que a informação passe
para o aparelho digestivo, basta cheirar a notícia para extrai dela as mais
convictas posições. Daí nascerem diversos e perigosos erros.
O fato
de existir uma chuva de conclusões sem uma análise mais apurada dos fatos, já é
suficiente para assustar, mas ao meu ver ainda não é o pior. Observei que
muitas pessoas não só cospem opiniões, como não aceitam ser contrariadas, se auto
declaram detentoras da verdade e rotulam todos os outros como ignorantes.
Concebem que todos aqueles que não pensam como eles são racionalmente
inferiores ou são inimigos, sem ao menos se prestar a ouvir o que o outro tem a
dizer, formando assim a sociedade do “fala que eu não escuto”, onde vozes ecoam
de todos os lados e nesta dança frenética ninguém consegue (ou quer) se
escutar.
Um
outro ponto que também me chama a atenção, é que, normalmente, quando uma
pessoa tem uma opinião sobre algo, procura ler e conversar apenas com aqueles
que corroboram a mesma posição, como se o outro lado fosse indigno da minha
atenção ou um inimigo que se deve manter a distância. O que muitos não percebem,
é que a melhor forma de fortalecer um argumento é conhecer a posição contrária,
entender como se constrói a fala do outro. Neste sentido, buscar apenas debates
em que todos defendam a mesma opinião, mostra somente a necessidade de autoafirmação
ou o medo de ter a fragilidade de seus argumentos desmascarada.
Ao meu
ver, a incapacidade de ouvir a posição do outro é extremamente perigosa para a manutenção
de uma sociedade democrática. Afinal, a democracia pressupõe a existência de
pensamentos antagônicos e a conservação do diálogo entre eles. E mais, a
inabilidade em aceitar a existência de ideias discordantes, compromete, também,
a capacidade de conviver, de se inserir dentro de uma sociedade formada por uma
pluralidade de indivíduos e, consequentemente, de pensamentos. Não digo que
devemos concordar com todas as formas de pensar, mas devemos aprender a ouvir
os diferentes argumentos, por mais difícil que isto possa ser.
Ótima reflexão, Thaty.
ResponderExcluirComo disse a Eliane Brum recentemente, parece que está se tornando um hábito raro ler um texto antes de emitir opinião sobre ele. E isso vale para todo tipo de texto, não só o escrito.
Realmente passamos por um momento delicado no qual muita gente grita e esbraveja e ninguém se ouve.
Como professoras/educadoras, acredito que temos um papel importante em estimular nossos alunos a ouvir, a fazê-los se estranhar diante dessa fala que não encontra interlocutor.
Abraço