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FAZER MÚSICA


FAZER MÚSICA
Você já parou para pensar na expressão “fazer música”? Eu faço casas, eu faço bolo, eu aviões. E você? Eu "faço música"! Até pouco tempo atrás eu não sabia o que era “fazer música”. Não sei porque comecei a pensar nisso agora. Me lembro que a uns dias atrás vi uma reportagem sobre um cantor e compositor. Me recordo que a reporter perguntou se ele estava fazendo muitos shows e ele respondeu que não muitos, porque estava mais concentrado em “fazer música”. Pensei comigo: o que significa “fazer música”? Será que eu consigo? Seria eu capaz de criar a minha música?
Passei a maior parte da minha vida ouvindo o barulho dos outros ou presa demais ao mundo visual para conseguir parar e tentar encontrar o meu ritmo. Como eu poderia fazer música se eu não conseguia nem mesmo ouvir com clareza!
Imagine quantas pessoas se acostumaram a viver sem música. Digo se acostumaram porque este não é o estado natural do ser humano. Qual foi a última vez que você fechou os olhos e se permitiu dançar? As pessoas se acostumaram a viver sem dança também. Sem música, sem dança e sem cores.
Muitos vão dizer, de dentro de seus cubículos internos “eu não sei fazer música, nem dançar, nem desenhar, nem...”. E eu digo, olhe uma criança, olhe muito bem para ela. O que você vê? Isso mesmo, você vê um ser que faz música, que dança e que desenha...
Não venha com essa de eu não sei “nem...nem...”, você sempre soube, só tem vergonha ou medo. Alguns podem responder “Mas eu não danço como fulano, eu não sei desenhar nem uma árvore”. Claro que você não dança como fulano, você dança como você mesmo. Claro que você consegue desenhar mais do que uma árvore, você é capaz de desenhar a sua árvore. Todos são capazes de fazer, criar, dançar, desenhar, afinal tudo está interligado, possui a mesma essência, ou seja, “fazer música”.
Eu precisei de muitos anos para valorizar o meu tempo e não o tempo dos outros. Esse foi o primeiro passo para que eu começasse a “fazer música”. Hoje, mais velha, sentada nesse sofá vejo claramente a maldade ou se preferirem a ironia do tempo: quando você tem fôlego não percebe que consegue “fazer música” e quando por fim entende a beleza da criação o fôlego diminuiu tanto que já não consegue acompanhar o tempo. Perdemos um pouco da vida a cada respiração e não nos damos conta. Eu tive sorte, fiz as pazes com o tempo enquanto ainda tinha fôlego, mas se eu pudesse voltar me reconciliaria bem antes.
Sei que muitos de vocês tendem a ignorar a voz de uma velha sentada em um sofá qualquer. Assim como tendem a ignorar tantas outras vozes. Eu não me importo se me ouvem com desatenção, digo assim mesmo: “façam música”, tantas quanto puderem. E não percam o fôlego por coisas sem sentido, quando chegar na minha idade vão precisar muito dele.

Comentários

  1. Massa, Thaty! Embora, assim como a maioria das pessoas, tenha me privado de muitas coisas por questões como esta... "não sei fazer como fulano", no fundo sempre tive essa sensação de que, graças a Deus, a gente é a gente e não o outro... afinal de contas, tá aí a beleza da diversidade e sua magia. O que seria dos jardins se só houvessem rosas??! Penso que a graça está nas diferentes possibilidades. É claro que falando assim é muito fácil, mas, um dos exemplos que sempre gostei de usar pra me ajudar a libertar um pouco da sombra do olhar alheio é o do vídeo, é bem simples... quem nunca se achou esquisito quando se viu em uma filmagem? Agora pare e pense no que vc achou do outro... parece normal, não?! pois é, o outro é só a gente com outra roupa. Bjus, minha querida! Fica com Deus!

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