Conheci tantos lugares. Variados gostos, texturas e matizes. Senti diversos odores e sabores. Já possuí diversos corpos. Já experimentei diversos suores. Já mergulhei com vontade de nunca mais voltar. Já me perdi nos meus próprios pensamentos. Já caminhei muito. Tentei fugir dos problemas ou me esconder atrás da cortina. Já tapei os meus olhos na vã ilusão de que assim ninguém me veria.
Já chorei ao ponto de secarem as lágrimas. Já senti o desespero que abafa toda a vontade de vida. Já gargalhei até quase não mais poder respirar.
Já prendi o cabelo por preguiça de pentear. Já roí unha até não sobrar nada. Já bebi ao ponto da cabeça estourar. Já me escondi no quarto com medo do mundo
Já dancei na chuva como se não houvesse amanhã. Já chorei baixinho, escondida atrás da porta. Já senti um aperto tão forte no coração, daqueles que bloqueiam qualquer sorriso. Já fiz papel de boba só para que ele sorrisse.
Já conheci pessoas que me fizeram feliz pelo simples fato de existirem. Já me perdi em certos olhares e acreditei que era para sempre. Já fui embora para nunca mais voltar, cheguei até a esquina e voltei correndo.
Já cai de bicicleta. Já sentei na areia só para olhar o mar. Já pulei sete ondas na esperança de que tudo melhorasse. Já acendi velas por medo do escuro. Já deixei ir embora quem eu queria que ficasse.
Já perdi a oportunidade de ficar calada. Já sofri por algumas escolhas e sorri por outras. Já quebrei o pé subindo montanhas. Já queimei meu rosto com o sol e com o frio. Já senti saudade do que vivi e também do que não vivi.
Já tive medo dos espelhos e da solidão. Hoje não temo mais nada. Estou velha e morrendo. Não quero carregar comigo os meus temores, quero as lembranças dos pequenos momentos que fizeram toda a diferença, quero o barulho do mar e a imagem do sorriso mais bonito me esperando na areia.
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