Olhou-a de longe, como se a muito não a visse. O sol batia nos cabelos, cada cacho brilhava ao leve balançar de cabeça. O sorriso descontraído, típico da adolescência. Como era possível que ela conservasse este frescor juvenil, mesmo depois de todos estes anos? Fazia tempo que não a olhava deste jeito. Os anos haviam se passado. As curvas daquele corpo amadureceram. Mas o brilho faceiro daqueles olhos negros continuavam fascinantes. Vinha deslizando pela rua, naquela tarde tranquila de sábado. Os quadris ora para um lado, ora para o outro. A barra do vestido acariciava os joelhos. Através do decote, um bom observador poderia ver uma gota fasceira de suor percorrer os seios. O ar se perfumou. A rua ganhou novas tonalidades. Tudo parou. Só havia ela. Apenas ela importava. Mesmo depois de todos estes anos... Ele sorriu em silêncio e mergulhou na tranquilidade daqueles que contemplam o infinito em um instante.